sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Relato de uma voluntária


Oi pessoal! Sei que vários comboios partiram hoje para diferentes pontos na Serra. Estamos fazendo isso há dias não é mesmo? Então... mais uma historinha para vocês.


Zarpamos eu, Marcia - esposa do Odilon), Alexandre Correia e Francislan bem cedo e às 6h estávamos na Parada Modelo. Alexandre tem Toyota tão cheia que não cabia nem pensamento. Distribuimos um pouco nos outros jeeps e seguimos para Vierias.


Lá nos encontramos com Odilon, no galpão do Nicolau e saimos para conversar com algumas pessoas na Igreja ao lado e tomarmos um cafezinho. Ao lado havia pessoas que tudo tinham perdido e estavam trabalhando no preparo das refeições para os voluntários, força nacional, corpo de bombeiros e exército.... e a comida se mostrou mais tarde deliciosa. 
Todas tinham tocas na cabeça, luvas nas mãos e... pasmem... sorrisos nos lábios!


Dali rumamos para um Orfanato - Campinas - responsável Magaly onde deixamos muitos brinquedos, canetas e papeis para colorir, revistinhas etc... na tentativa de oferecer alguma coisa extra para as pessoas brincarem com as crianças que estão cuidando.


Depois rumamos para Pilões.... estradas com muitas barreiras ainda, máquinas por todos os lados tentando abrir caminhos, postes e mais postes caídos, e a gente tentando seguir... lá pelas tantas não deu mais... Odilon foi com o Troller até onde deu... depois seguiu a pé e depois... desistiu! Uma máquina retroescavadeira estava com barro até a metade do pneu... e olha que o pneu destas máquinas são imensos... então voltamos.


Enquanto esperávamos por notícias do Odilon... vimos duas casas... as pessoas tentando arrumar o que sobrou... nos pediram uma vassoura e alguns mantimentos e escova de dentes. Deixamos com eles estas coisas pois não queriam mais nada, apenas isso.


Uma pessoa nos pediu remédios... mas não tínhamos e não levaremos pois esta parte fica por conta dos Postos de Saúde e Defesa Civil né?


Seguimos para Sumidouro - junto com a tec. de enfermagem Rosely, responsável pelo posto de saúde de lá, que nos acompanhou e nos ´guiou´ pelas estradas até um bairro chamado Caramandu ( onde pontes cairam e não podíamos prosseguir). Lá tem uma família com uma grande casa que serve de base e... os moradores da região vêm a pé buscar o que podem levar. Eles improvisaram uma ´ponte´ com troncos de árvores/madeiras e podem passar por ali e buscar as doações.


Neste ponto Alexandre quase desmonta... a linda menininha que lá estava conta pra ele que ´ perdi três tios´ nas chuvas!!! Cada um vira a cara pro lado e disfarça como pode as lágrimas. 


Retornamos para Vieiras (mudos) para re-abastecer com doações e seguirmos para São Bento... mas daí o caos já estava formado... jeeps por todos os lados, comboios sem saberem pra onde ir exatamente, trânsito caótico por causa das máquinas e pick-ups da defesa civil e de voluntários (caminhões da LBV ...eca...) e fotógrafos de plantão... Desistimos, fomos almoçar e retornamos para o Rio.


Isto é, Odilon não voltou conosco pois como há muitos técnicos analisando a situação atual de alguns rios que mudaram totalmente de curso eles precisavam de ajuda para chegarem a locais onde não conseguiam sem 4x4. E lá se foi Odilon novamente... Pudemos ver muitas empreiteiras e muitos funcionários... o pessoal estava realmente trabalhando duro... e helicópteros por toda parte. ;)


Sim, acreditamos que agora já estão, se não todos, quase todos abastecidos por algum tempo. Mas vai levar muito tempo até que as estradas melhorem, que a luz se restabeleça totalmente e que a vida retorne ao ´normal´.


Então... como todos já disseram... teremos que voltar. Agora é armazenar/organizar as infinitas doações e melhor distribuir dentro de alguns dias. Há locais que tem roupas demais e colchão de menos. Outros com muita água e pouco material de limpeza.... e limpeza é o que não falta para se fazer.


Cenas dantescas: no meio do caos víamos pessoas lavando geladeiras, armários... limpando supermercado onde tudo foi perdido e completamente enlameado. Olhávamos para a direita e víamos tudo devastado... olhávamos para a esquerda e víamos casas e árvores perfeitas. A lavoura (tomates, verduras, ...) muitas intactas... outras completamente destruídas. Mas em todas víamos pessoas trabalhando... trabalhando... trabalhando. 
Não sei sinceramente de onde elas retiram forças para re-começar.


Na volta ao Rio Alexandre ainda tinha ração no jeep e conseguimos entregar no local onde há muitos cães ´hospedados´ e tinha muita gente na área... adotando e levando todo tipo de cães... filhotes aos montes... até São Bernardo tinha... cães lindos que também estão perdidos pela falta dos donos.


A estrada na volta estava tranquila... na descida... pois a subida mostrava que ainda muita gente estava a caminho.... e as nuvens que se formavam na Serra dos Órgãos nos deram a impressão de que talvez... mais chuvas estavam a caminho. Tomara que não...


Se faltou algum detalhe ou nome de pessoas/locais (ou troquei o nome dos locais)... me perdoem... já não consigo mais armazenar esses dados... não faz diferença o nome do local. 


Fotos? Já vimos muitas....Tenho na memória agora a poeira, a lama, o olhar das pessoas, e os pés descalços de um casal já de idade que chegou perto de nós e nos agradeceu...


Beijos e parabéns a todos que se mobilizaram de alguma forma e... descansem!
Há mais ainda pela frente a ser feito.



Sandra Xavier 

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