domingo, 10 de abril de 2011

Capacidade de superação

Por Julia C. M.Ordonez Daniel*


No decorrer das ultimas décadas, muitos estudos foram realizados a partir de experiências traumáticas e neles foram observados que a superação desses traumas, decorrentes de tragédias como mortes acidentais, ataques terroristas, epidemias de doenças fatais ou desastres naturais como os ocorridos na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, dependem de um dispositivo que chamamos de “resiliência”.


O conceito de resiliência foi importado para a psicologia e vem da física, que o usa para descrever a capacidade dos metais de voltarem ao seu estado natural após serem submetidos a agentes estressores. Aplicado aos seres humanos, podemos pensar na resiliência como a capacidade de voltarmos a nossa organização psíquica anterior ao determinado incidente, nos levando à superação desses traumas e retorno a nossa normalidade de funcionamento. Não se trata do esquecimento total dos fatos traumáticos, mas sim da elaboração dos mesmos, para que voltemos ao curso normal de nossas vidas.


A princípio, se pensava na capacidade de resiliência humana como um acontecimento raro e pontual, nos levando a acreditar que a maioria das pessoas não seria capaz de superar eventos traumáticos dessa grandeza. Ela era pensada como resultante de uma mistura de genes identificados como responsáveis pela nossa capacidade adaptativa com a chamada “boa criação”, por meio da qual seríamos ensinados a superar situações de estresse através de nossas experiências sociais.


Estudos mais recentes nessa área mostram, entretanto, que a resiliência é uma habilidade relativamente comum a todas as pessoas e que suas diferenças são basicamente qualitativas. Isto significa que a maioria das pessoas responde de maneira satisfatória a esses eventos traumáticos, porem o fator variável é o processo de superação desses eventos.


Foi observado que quando uma pessoa é exposta a uma situação adversa de natureza traumática, é acionado um dispositivo endócrino-nervoso conhecido como “luta ou fuga”, no qual são liberados sinais nervosos e hormônios que nos impelem a lutar pela nossa sobrevivência ou fugir para preservá-la. Esses hormônios e impulsos nervosos se normalizam passado algum tempo e são re-acionados se a pessoa for novamente submetida a uma situação semelhante. Nos casos de trauma profundo, qualquer menção ao evento traumático aciona esse mecanismo e leva a pessoa a reviver toda a situação a qual foi submetida. Com o passar do tempo, esse mecanismo é acionado de forma cada vez mais branda e tende a se extinguir. Em algumas pessoas, esses hormônios associados ao estresse se associam a algumas substancias bioquímicas na corrente sanguínea que ajudam a dissipar esses hormônios mais rapidamente.


Podemos, então, levar em consideração que a capacidade de resiliência do ser humano depende de alguns fatores que são genéticos e outros que são de caráter social. No entanto, a maioria das pessoas possui a capacidade de resiliência suficiente para superar o trauma em um tempo que podemos considerar satisfatório.


* com base no artigo “A neurociência da coragem genuína”, publicado na revista Scientific American Brasil, abril 2011, ano 9, n°107

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